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No mesmo lugar

2 de janeiro de 2011

Mal terminamos de nos debruçar sobre a ideia do avanço que representa termos uma presidente mulher, ou melhor, uma presidenta, que milhares de brasileiros já se adiantam em lembrar que o machismo, no Brasil, continua no seu lugar.

Não quero aqui levantar bandeira de feminismo ou qualquer “ismo” que venha a calhar nesses momentos de indignação, mas, é sempre bom evidenciar o quanto estamos lambuzados no preconceito. Enquanto discursava no parlatório do Palácio do Planalto, em Brasília, na tarde de ontem (1), o brilho das palavras e da representatividade da presidenta Dilma foi ofuscado pelo fato de  o  vice-presidente do país, Michel Temer (PMDB), ter ao seu lado uma segunda dama que não está, digamos, à sua altura. Ou o contrário.

Ex-miss na cidade de Paulínia (SP), Marcela Temer, 27 anos, roubou a cena de milhares de brasileiros que parecem nunca terem parado durante 30 segundos para pensar: “pela primeira vez, uma mulher governará o nosso Brasil”.

Ao mesmo tempo em que Dilma Rousseff alcança o posto mais importante do país, representando mais um avanço rumo à uma sociedade mais justa e igualitária, diversos comentários no Twitter dão conta de taxar a nova segunda dama brasileira de “burra” e “prostituta”, apenas por ser linda, ex-miss Paulínia e 42 anos mais nova que o esposo. Nenhum texto sobre o caso valida os adjetivos atribuídos à jovem.

Nesse âmbito, falar de avanço é um risco. Ao que parece, em certos quesitos, permanecemos no mesmo lugar.

De prósito, este post vem sem nenhuma foto, para frisar que este é um blog, agora, essencialmente político e, até então, Marcela não representa nada nesse contexto. O que importa – e preocupa – é o fato da moça ser uma “Temer” e está no posto que hoje ocupa.

Enquanto isso, Michel Temer, figura autoritária, reacionária e, pior de tudo, peemidebista, vai comemorando incólume o seu posto ao lado da mulher que encaminhará o projeto político de Lula. Só espero que ele não adquira um câncer e que precise lutar bravamente pela vida pois, sinceramente, uma figura política como essa não é digno de muita coisa, muito menos de misericórdia.

 

 

 

Política entre aspas

8 de agosto de 2010

A política é um meio em que se precisa ter mais sabedoria e manejo prático e intelectual para equilibrar as demandas da população e gerir a comunidade de modo competente e responsável. Todos sabemos, no entanto, que muitos políticos, com anos de carreira (termo considerado “pejorativo” no meio) e, em muitos casos, de corrupção, perpetuam-se no Executivo e Legislativo nacional sem o menor constrangimento, com total despreparo.

A lei brasileira permite que qualquer cidadão, em pleno exercício de seus direitos políticos, possa se candidatar a cargos públicos, com algumas ressalvas. Esses “poréns”, no entanto, não são suficientes para barrar alguns candidatos que caem de paraquedas na política, com qualquer outro objetivo que não um ideal de transformação social. Política é uma palavra social, e quem está nela sem esse pensamento, está no lugar errado.

Nessa onda está um recente fenômeno entre as legendas brasileiras, que cresce a cada eleição e provoca a indignação de uns e o riso de outros. Jogadores de futebol, cantores, celebridades instantâneas…figuras populares, reconhecidas por outros méritos, são chamadas para se candidatarem e puxarem votos, como foi o caso de Clodovil Hernandes, candidato a deputado federal pelo PTC, em 2006, morto em março de 2009 após sofrer um AVC. Hernandes foi o segundo parlamentar mais votado de São Paulo (atrás de Paulo Maluf), puxando para a Câmara Federal mais dois deputados de seu partido. A lógica do “puxador de voto” é uma afronta à sociedade, que é obrigada a se ver representada por políticos que não têm o seu consentimento.

Segundo matéria publicada no portal Terra, no ano passado, os partidos correm atrás de artistas também para ajudar a melhorar a imagem da classe política brasileira, manchada por escândalos quase diários. Essa justificativa, se não soa ingênua, é no mínimo vergonhosa, porque não há sentido em se pensar que artistas como Tati Quebra-Barraco (PTC) ou a Mulher Melão (PSH) trarão credibilidade ao meio político. Acham que Vampeta (PTB) vai melhorar a imagem de Roberto Jefferson (também PTB)? Além deles, nomes como Marcelinho Carioca (PSB), Tiririca (PR) e até o “rei do brega” Reginaldo Rossi (PDT) estão na disputa por uma vaga em Assembléia Legislativa ou Câmara Federal.

Na Bahia, teve-se a sorte da desistência de Cumpadre Washington (PSL) à candidatura para deputado estadual, mas ainda encontram-se na concorrência nomes como Uziel Bueno (PTN), que aproveita a sua popularidade como comunicador e (creiam!) comunicólogo, para fazer carreira em um meio mais cruel que o seu de origem.

Capacidade – Se é precipitado fazer um julgamento genérico sobre os candidatos artistas, em alguns casos, é possível provar que a política tende a selar trajetórias de sucesso. Candidatos a deputado federal e estadual, respectivamente, pelo Democratas, os irmãos Kiko e Leandro, da boyband KLB, já mostraram em entrevista à TV UOL que não sabem a que vieram. Falando de política “entre aspas”, Kiko demonstra ter mais familiaridade com o tema, mesmo sem saber o porquê de ter aderido ao DEM – além do convite do “amigo” Gilberto Kassab, prefeito de São Paulo. Já Leandro se limita a fazer intervenções como a de qualquer adolescente que não quer saber de política e não sabe em quem votar. E estão os dois contra a pedofilia.

Como já foi dito, é perigoso fazer julgamentos genéricos e precipitados. A candidata a deputada estudual pelo PR, Léo Kret, apesar das críticas e por ter entrado na política pelo “oba-oba”, esteve à frente da luta pela regulamentação dos mototaxistas enquanto  vereadora, o que é um ponto positivo. Se a dupla pop for eleita, vamos lembrar da proposta e cobrar o que será feito para amenizar a pedofilia no Brasil.

Mano Brown e a “galinha gorda” de Serra

26 de julho de 2010

– Como presidente, como ele seria?

– Uma catástrofe!

….

Ouvir Mano Brown falar * é sempre curioso. Apesar de ter uma visão de cabresto em relação ao Governo Lula – o que é compreensível, pois ele é o típico brasileiro de origem humilde, que viva a realidade de melhorias da população pobre – ele tem alguns pensamentos muito interessantes. Veja a excelente metáfora da “galinha gorda” do líder do grupo Racionais MC’s sobre quem é o candidato à presidência da república José Serra:

*: É interessante perceber como os entrevistadores conduziram o programa Roda Viva (TV Cultura), bem resumido neste trecho. Todos sabem que Mano Brown não tem intelectualidade e escolaridade de um membro da high society e, mesmo assim, apertaram o rapper com perguntas que, certamente, ele não saberia responder com total segurança e conhecimento. Os jornalistas não compreendem os limites de Mano Brown ou fizeram de propósito?